Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho.
O termo neurastenia surgiu como categoria médica em meados de 1881, a partir das primeiras publicações do neurologista nova-iorquino George Miller Beard. Naquela época era vista como uma doença que acometida o corpo físico e não havia tratamento médico efetivo.
Jean Martin Charcot [1825-1893] já estudava também a neurastenia, pois era diretor do departamento de doenças nervosas do hospital psiquiátrico Salpêtrière em Paris, na França. Charcot estudava pacientes histéricas e as submetia à hipnose. Desde daquela época, ele já havia entendido que doenças como neurastenia e histeria (transtorno conversivo) não se tratava de afecção física, mas de problemas de cunho emocional.
Sigmund Freud que morava e trabalhava em Viena, foi para Paris estudar com Charcot, que ministrava aulas no próprio Hospital, demonstrando para seus alunos a hipnose em suas pacientes histéricas. Freud já era médico neurologista e havia ganhado uma bolsa de especialização, quando permaneceu por quase cinco meses em Paris e mais um mês em Berlim.
Freud já havia tomado conhecimento sobre a paciente de Breuer - este também morava em Viena -, Anna O., que era histérica, então, quando Freud percebeu que muitos dos sintomas histéricos desapareciam durante a hipnose, percebeu que não se tratava de um problema físico que acometia órgãos, mas havia algo da ordem das emoções. Foi assim que Freud começou a estudar suas pacientes e passou a tratá-las inicialmente com hipnose, com catarse e depois com a “cura pela fala”, para alguns anos mais tarde desenvolver o tratamento psicanalítico.
Freud desenvolveu várias teorias, criou termos como psiquismo, inconsciente, e com o tempo desenvolveu toda a teoria e prática psicanalítica. Foi uma teoria desenvolvida pela prática nos atendimentos com suas pacientes. Primeiramente ele e Breuer iam aprofundando seus conhecimentos com Anna O., para depois Freud mesmo ir aplicando as práticas em suas próprias pacientes. Essa história e outras podem ser lidas no livro ‘Estudos Sobre a Histeria (1893-1895)” de autoria de Freud e Breuer.
À princípio os médicos pensavam que a histeria só acontecia com mulheres, daí o termo histeria vir de histeris = útero. Posteriormente percebeu-se que os sintomas também acometiam homens. A sociedade daquela época privava as mulheres de vários direitos e toda essa represália fazia com que elas adoecessem psiquicamente mais do que os homens.
Alguns sintomas das pacientes histéricas: cegueira, surdez seletiva, mudez, contratura muscular, afazias, alucinações, insônia, depressão, fobia, anorexia, cansaço extremo, etc. Esses sintomas passavam quando as pacientes eram submetidas a hipnose, depois quando a teoria foi avançando, quando a paciente recordava o trauma sofrido no passado, recuperava a saúde, e depois, foi com a fala, falando sobre o problema e ressignificando o trauma vivido que por um tempo estava esquecido (recalcado). Dr. Freud percebeu algo em comum na histeria, neurastenia, depressão, etc. Que provinham de traumas recalcados, ou seja, da estrutura neurótica, termo criado por Freud.
A neurose é quando um indivíduo sobre um trauma na infância ou um trauma mais recente de sua vida, e recalca esse trauma. O trauma recalcado é esquecido, mas a energia psíquica relacionada ao trauma quer extravasar do psiquismo, convergindo como um sintoma. O indivíduo pode não ter esquecido totalmente, mas não faz ligação de que aquele sintoma seja por ter ocorrido algo insuportável ao Eu. O recalque é um mecanismo de defesa do Ego, que o utiliza para se “livrar do problema”, deixando lá como que esquecido no inconsciente, mas o recalcado quer retornar, e pode vier à tona por meio de sonhos, chistes, sintomas. É a forma como o que foi recalcado acha para passar na barreira do inconsciente e poder vir à tona. Nesse contesto, podemos dizer que a neurastenia, a fobia, a histeria, dentre outros, são transtornos neuróticos.
Historicamente, o Burnout foi descrito como uma fraqueza dos nervos, a neurastenia. A menção à palavra data de 1881 e era descrita como uma consequência do progresso civilizatório – apontando como causas o aumento da velocidade de deslocamento; de produção e obsolescência do conhecimento; do volume exacerbado de informações; e da impossibilidade de se desligar do trabalho. Tais sintomas possuem paralelos com o momento contemporâneo, contudo a evolução científica sobre o tema depurou os aspectos de origem e manifestação da síndrome.
Conforme a psiquiatria, o Burnout ocorre em três dimensões: esgotamento emocional (falta de energia, cansaço), despersonalização (atitudes negativas em relação às pessoas, descaso pelas relações sociais, distanciamento das pessoas, descrença em valores positivos das pessoas como honestidade e integridade) e insatisfação pessoal consigo mesmo e com o trabalho (autoavaliação negativa de produtividade, sentimento de incompetência e de incapacidade para interagir com outras pessoas), além de outros sintomas como dor de cabeça frequente, alterações no apetite, insônia, alterações repentinas de humor, fadiga, hipertensão, dores musculares etc. Na corporação, o Burnout pode ser evidenciado por diminuição do desempenho no trabalho, aumento da irritabilidade, desconexão emocional e exaustão aparente.
“Tais sintomas se aplicam a uma variada gama de transtornos mentais, desde depressão leve; transtornos de ansiedade; transtorno de adaptação ou transtorno de ajustamento. Eu chamo a atenção para este diagnóstico diferencial, pois traz características muito semelhantes ao Burnout. Contudo, os sintomas se aplicam a qualquer área da vida do indivíduo, inclusive o trabalho, enquanto o Burnout se refere a estressores presentes apenas no trabalho”, salienta Dr. Gattaz
Excelente texto, contendo os assuntos mais importantes para entender desconfortos orgânicos ao quais tem a sua origem no psicológico (emocional), se você se identificou com o que o texto relata, não deixe de buscar ajuda profissional. Aqui mesmo no site você consegue falar com as psicanalistas Carla Domini (autora deste texto) e a psicanalista Rosemary Gomes.