O percurso da angústia em Freud iniciou-se desde a teorização das neuroses atuais, com o “Projeto de uma psicologia”, redigido em 1885 e posteriormente em Inibição, sintoma e angustia (1926/1975). Neste, Freud enfatiza a hipótese de que a angústia consistiria em uma reação a um perigo externo. Nesta nova formulação, a ênfase está mais centrada na defesa do ego frente a uma situação de perigo. A fonte da angústia está no ego; uma forma de defesa deste. Freud faz também uma diferenciação da angústia real da neurótica, pelo qual, na neurótica, o individuo sofre de uma angústia frente a um perigo desconhecido, este sendo um perigo pulsional, enquanto na angústia real, o indivíduo paralisa frente a um perigo real, externo ao sujeito. Estes tipos de angústia podem aparecer mesclados, onde o perigo é real, mas a angústia é extrema, maior que o devido.
Já no projeto, a angústia gerada nas neuroses atuais, seriam produzidas pela excitação pulsional não descarregada. Sem querer entrar em ampla discussão sobre este assunto, sobre as diferenças entre neurose de angústia e neurastenia (neuroses atuais) e as psiconeuroses (neurose histérica, neurose fóbica), gostaria de enfatizar e mencionar alguns sintomas neuróticos com transtornos psiquiátricos atuais.
A classificação no DSM V-TR não tem nada a ver com as nomenclatura psicanalítica de estruturas clínicas de sofrimento psíquico, mas podemos perceber que apesar dos “rótulos” não definirem os indivíduos, Freud não só é atual, como também foi o pioneiro nos estudos de tais “transtornos”, ou seja, das neuroses e psiconeuroses.
Vejamos algumas definições:
Neurastenia em psicologia
A neurastenia é um transtorno psicológico caracterizado por mudanças no funcionamento do sistema nervoso. Essas alterações resultam em consequências como fadiga e cansaço extremo, fraqueza, dores no corpo e um mal-estar sem causa aparente.
neurastenia
substantivo feminino
1.
psicopatologia
perda geral do interesse, estado de inatividade ou fadiga extrema que atinge tanto a área física quanto a intelectual, associado esp. a quadros hipocondríacos e histéricos.
Colapso Nervoso
O colapso nervoso, também conhecido como esgotamento nervoso, é uma situação caracterizada pelo desequilíbrio entre o corpo e a mente, que faz com que a pessoa se sinta sobrecarregada, resultando em sintomas de cansaço excessivo, dificuldade para se concentrar e alterações intestinais.
O colapso nervoso não é reconhecido como uma doença, no entanto pode ser sinal de transtorno psicológico, como ansiedade, estresse e depressão.
Sintomas psicológicos do colapso nervoso - desinteresse: o indivíduo abandona as atividades diárias habituais e não demonstra mais vontade de realizá-las; instabilidade emocional: a pessoa sente-se deprimida e esgotada. Além disso, apresenta explosões emocionais de raiva incontrolável, medo, desamparo ou choro.
O que pode causar um colapso nervoso?
Uma pessoa pode ter um colapso nervoso quando o estresse é demais para ela suportar. Esse estresse pode ser causado por influências externas. Conhecendo os fatores de risco é possível evitar situações ou ainda tomar cuidado em melhor gerenciá-las a fim de evitar uma situação de colapso.
É importante frisar que o termo colapso nervoso, ataque de nervosos, são termos que eram utilizados por médicos para se tentar explicar alguns transtornos dos quais não se tinha conhecimento.
Vejamos os sintomas de transtornos da atualidade
Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho.
Neurose de Angústia/ Transtorno de Pânico
Você sabia que quando vamos para a literatura psicanalítica e vamos confrontar com a definição de Transtorno de Pânico, podemos verificar se tratar dos mesmos sintomas? Ainda que entre os teóricos haja uma grande divergência sobre isso.
O que é ?
Essa neurose é caracterizada por um sentimento permanente de angústia não referida a algo determinado. Sobre esse terreno angustioso podem ocorrer exacerbações súbitas, intensas e aparentemente imotivadas (crises de angústia), com seus correspondentes correlatos fisiológicos.
Quais os sintomas mais comuns?
O sentimento mais chamativo e que se destaca dos demais é uma angustia crônica generalizada. Em razão dessa angústia quase sempre os músculos estão tensos e o relaxamento é difícil ou impossível. Há também uma inquietação incômoda, um medo vago e indefinido e tormentosas expectativas negativas relativas ao futuro. Habitualmente estão presentes também os acompanhamentos fisiológicos, tais como palpitações, sensações de sufocações, tremores, sudorese
excessiva, mal estar gástrico etc. Muito frequentes são as sensações de aperto na cabeça o no peito. São comuns os distúrbios psicossomáticos como úlceras, asma, gastrites, colites, dores de cabeça etc. Algumas vezes esses neuróticos mostram-se hipocondríacos, fóbicos, histéricos ou melancólicos. Geralmente a função sexual está prejudicada, com diminuição do interesse e deformações várias. Outras vezes sofrem de graves inibições generalizadas das demais funções, as quais limitam suas vidas: não conseguem trabalhar, divertir-se, conviver livremente etc. Quando predomina a inquietude, costuma-se dar ao quadro a denominação de ansiedade.
Enfim, com o estudo sobre ansiedade, angústia e transtornos mentais, advindos da Psicopatologia atual, podemos perceber que apesar dos termos psiquiátricos serem diferentes não há nenhum “transtorno” novo; Freud sempre explica. Entretanto, apesar do DSM e CIDs “rotular” pessoas, a psicanálise se preocupa em focar no indivíduo que apesar de estar num sofrimento psíquico isso não o lhe torna aquilo que a psiquiatria o nomeia.
Entendemos que as nomenclaturas servem para os CID’S em atestados e para poder se direcionar o tratamento com medicação, mas a psicanálise vai além das fronteiras da consciência para resgatar a subjetividade de cada um com suas peculiaridades e acolher o sujeito em seu sofrimento psíquico.
Referências
Campos, E. B. V. (2004). A primeira concepção freudiana de angústia: uma revisão crítica. Ágora: estudos em teoria psicanalítica, 7(1), 87-107.
Freud, S. (1975). Inhibitions, Symptoms and anxiety. In S. Freud, The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud (J. Strachey, Trad., vol. 20, pp. 77-178). London: The Hogarth Press. (Trabalho original publicado em 1926).
Freud, S. (2003). Projeto de uma psicologia. In O. F. Gabbi Jr. (Trad. e Org.), Notas a "Projeto de uma Psicologia" – as origens utilitaristas da Psicanálise. Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1950).
Excelente artigo, esclarecedor sobre os dias em que vivemos